segunda-feira, 13 de agosto de 2012

O Resgate dos Contos de Fadas






O texto apresentado a seguir faz parte de um trabalho de pesquisa realizado em 2006, na conclusão do Curso de Graduação em Pedagogia - Anos Iniciais (Normal Superior), no IESA, através de uma revisão bibliográfica (monografia). 
Hoje, ao se trabalhar os Contos de Fadas com as crianças das turmas de Anos Iniciais, percebe-se claramente que eles ainda acreditam no “...e foram felizes para sempre...”, sonham com a magia que essas histórias trazem e isso denota a importância desses contos na formação dos pequenos.


O Resgate dos Contos de Fadas
                                                                                     (Professora Débora Cattani Machado)

  Há séculos, no mundo inteiro, milhões de crianças se encantam com os contos de fadas, histórias que falam de amores, crueldades, desígnios, sonhos e tristezas.
   Percebe-se que mesmo com os homens desafiando o universo através das ciências, as crianças continuam ouvindo as mesmas histórias, com os mesmos temas.
  Vivemos, hoje, num mundo onde a informação atravessa o planeta em segundos, e nossa sociedade valoriza o "ter" muito mais que o "ser", até mesmo nas leis (que defendem mais o patrimônio que a vida humana), e isso leva os pais a trabalharem exaustivamente, investirem cada vez mais em suas carreiras e ficarem muito mais lá fora que em casa, delegando quase tudo, relativo aos filhos, a outras pessoas. Nesse sentido, cessou-se, quase por completo, um ritual que existia anteriormente, do ninar, das cantigas, das historias antes de dormir...que levavam nossos pequenos a imaginar, entrar na história, sentir a dor e o prazer que cada uma traz...
      E  apesar disso, percebemos, hoje, um “revival” dos contos de fadas, mesmo com as condições de vida atuais, que não preconizam a leitura, a fantasia ou o devaneio.
      Há muito tempo atrás, antes do advento da tv e das mídias em geral, toda a família se reunia em torno do fogo e era ali, que algum contador narrava historias onde o bem sempre vencia o mal,contos de fadas, lendas de arrepiar, cruas e amedrontadoras, e isso enriquecia o imaginário, fazia com que a criança superasse seus conflitos internos,  e colocando-se no lugar do personagem sofredor, sublimava seus medos...isso fazia com que se apaixonasse por livros, pois era lá que poderia, ao aprender a ler,encontrar sonhos, fantasias, magia e a vitória do bem .
       De acordo com Cavalcanti (2004): “O fato é que o ser narrativo é inerente ao homem, pois este, ao imergir no estado contemplativo ou ao ser incitado a lutar pela sobrevivência, penetra na cadeia simbólica de significantes que pertence ao mundo da palavra, do ato que se faz presente pelo verbo. Dessa forma, torna-se essencial a busca pela imaginação e pelo sonho, como uma forma de fuga do real, tornando assim, possível a volta ao mundo cotidiano, vivenciando e enfrentando os problemas cotidianos com mais recursos interiores”

     Talvez essa busca incessante do ser humano por aquilo que lhe falta, encontre algo sugestivo ao ouvir ou ao ler histórias que falam tão alto ao coração.

    Como afirma Coelho (1997):  Por mais que os homens modifiquem o mundo em que vivem, com sua inteligência e trabalho, sua natureza humana não muda. Nela misturam-se ‘as paixões da alma’ [...], as necessidades básicas do ser humano [...]. Tanto as ‘paixões’ quanto as ‘necessidades básicas’ são a matéria-prima dos CF e de todos os livros que venceram o tempo e através de milênios ou séculos continuam a interessar os leitores ou ouvintes” .
       Assim, os contos de fadas são capazes de projetar os leitores para além de seu cotidiano. Quando o pequeno consegue se identificar com o herói ou a heroína sofredora, e percebe não ser o único a ter problemas ou dilemas, como ciúme ou inveja, ele consegue se apropriar da coragem daquele herói.Consegue assim superar o medo que o inibe, a partir dessa projeção. Torna-se interessante salientar também que quando a criança busca o medo na crueza dos contos de fadas é porque este é inerente ao ser humano.
        Por isso, Corso e Corso (2007) acreditam que embora muita coisa tenha mudado no reino dos homens, parece que certos assuntos permanecem reverberando através dos tempos [...]. Essas velhas tramas devem ter achado razões para existir em tempos tão distintos, senão teriam perecido. São problemas e soluções de outrora, mas que surpreendentemente encontram lugar no interesse de gente novinha em folha (CORSO & CORSO, 2007).
1º ANO ENSINO FUNDAMENTAL -Colégio Estadual Missões (2012).

 Ressalta-se assim, que as histórias que têm persistido, apesar do tempo, são justamente aquelas que carregam mensagens simbólicas, intrínsecas ao ser humano. Apesar dos séculos terem deixado suas marcas e as crianças  atuais viverem num mundo cibernético, ainda há espaço para as fadas, príncipes e princesas, povoarem seus sonhos.  
Nesse mundo remoto, eles ainda encontrarão a virtude vencendo a maldade, sendo levada a identificar-se com o bom e o belo, podendo vislumbrar um pouco de magia para se definirem capazes de lutar por seus ideais.
Desse modo, os contos de fadas permanecem até hoje porque resgatam os valores esquecidos, vêm ao encontro das necessidades básicas dos homens e não há tecnologia, nem ciência que tenha o poder de tocar tão intensamente o coração do ser humano, pois este é o recôndito da alma.
                                                      
                                                        

Referências Bibliográficas:
                                    
BETTELHEIM, Bruno. Psicanálise dos contos de fadas. 20. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2006.

CAVALCANTI, Joana. Caminhos da literatura infantil e juvenil. São Paulo: Paulus, 2004.

 CORSO, Diana Lichtenstein & CORSO, Mário; Fadas no Divã: psicanálise nas histórias infantis. Porto Alegre: Artmed, 2006.

JERUSALINSKY, Alfredo. Psicanálise e desenvolvimento infantil: um enfoque transdisciplinar. Porto Alegre: Artes e Ofícios, 1999.

ZILBERMAN, Regina. A literatura infantil na escola. São Paulo: Global, 2003


2 comentários:

  1. Muito bom!!!!Parabéns profe Debora pelo texto!

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    1. Obrigada, professora Aline. Seja muito bem-vinda em nosso blog.Abraço.

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